quarta-feira, 20 de abril de 2011

Comunicação mudou

A comunicação e as mídias são outras - agora não é pós, é pré-tudo, diz o publicitário Nizan Guanaes, em artigo (com o título em negrito) na Folha de São Paulo.

O comercial de 30 segundos no horário nobre da TV aberta ainda reina como a forma mais rápida de espalhar a sua mensagem. Mas muita coisa mudou. Com exceção talvez dos Simpsons, as famílias já não se sentam no sofá toda noite, a noite toda, para assistir à programação da televisão. Acabou a moleza, e nunca foi mole. O estado da comunicação hoje é de fluxo, é transmídia, multimídia, minimídia, maximídia. Pode colocar qualquer prefixo antes de mídia que funciona. Experimente.
As novas tecnologias não são ameaças, mas, pelo contrário, novas ferramentas muito mais potentes para fazer melhor o que se fazia antes sem elas.
Como um grupo de comunicação brasileiro como o Grupo ABC pode concorrer com gigantes mundiais na terra deles? Com talento, claro, e as novas tecnologias, obrigado.
E não é só a tecnologia que está mudando. Algo muito maior está em curso. E é sempre a pessoa, não o hardware ou o software.
As revoluções tecnológicas potencializam as revoluções demográficas. Juntas, estão transformando o consumo no mundo e no Brasil de forma avassaladora. Mídia e públicos se multiplicam como num caleidoscópio. E pode ser muito confuso. Consumidores com 60 anos ou mais já gastam mais dinheiro do que adolescentes e jovens na compra de discos de música pop no Reino Unido, país parâmetro para esse mercado.
O disco de maior sucesso da gravadora Sony Music no mundo no ano passado foi "The Gift", da pacata cinquentona Susan Boyle, que não tem nada a ver com os ídolos de apelo teen que costumavam dominar sozinhos as vendas, como Michael Jackson e Madonna. Perto deles, Boyle é Madre Tereza de Calcutá. Mas há um público novo (de mais de 50 anos, apreciadores de música pop) e uma tecnologia antiga (CDs) que, juntas, geram riqueza e satisfação.
Boa parte da magia agora será combinar e misturar corretamente públicos e tecnologias, já que nunca tivemos tanto público e tanta tecnologia disponíveis. E haverá surpresas. O poder jovem pode não ser tão poderoso assim. Ou, melhor dizendo, os não jovens não são tão sem-poder assim.
Nos países mais desenvolvidos do hemisfério Norte, os consumidores de mídia estão envelhecendo mais rapidamente do que a população em geral. Isso significa que é cada vez maior o número de pessoas acima de 50 anos entre os consumidores de mídias impressas, TV e rádio.
O antigo costume da propaganda de priorizar os públicos entre 18 e 49 anos está sob revisão. Segundo dados compilados pela revista "Economist", leitores dos jornais americanos acima de 55 anos eram 37% do total em 2002 e agora já são 46%. Já o "Daily Telegraph", um dos maiores jornais britânicos, tem 43% dos seus leitores com mais de 65 anos. Suas páginas agora trazem cada vez mais anúncios sobre cruzeiros marítimos e chinelos confortáveis, e isso é muito natural.
Mesmo a audiência das (já não tão) novas mídias amadurece. Nos Estados Unidos, a proporção de pessoas com 65 anos ou mais que consome informação preponderantemente on-line subiu de 2% em 2006 para 14% agora.
No Brasil, sempre fomos dominados pela ideia da juventude, da nova nação. Mas isso também está mudando. O país envelhece, se ainda não no espírito, nas estatísticas.
A principal causa desse amadurecimento é a queda abrupta da taxa de fecundidade, que era de mais de seis filhos por mulher na década de 1960 e agora está em 1,9 filho por mulher na média do período entre 2005 e 2010.
A comunicação, as mídias e a propaganda serão outras para esses outros públicos que se formam e se organizam.
Não é mais pós-tudo, agora é pré-tudo. São tempos muito interessantes.

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